Quarta-feira, 25.01.12

Um violino no telhado (1/2012)

Uma das minhas apostas deste ano é ler mais teatro. Sinto que o narrador é um recurso demasiado fácil e quero aprofundar essa arte de, pelo diálogo, dizer mais que as linhas. Pode dizer-se que foi um bom começo. Esta história foi um musical de sucesso, adaptado para o cinema em 1971.

Conta a história de uma família judaica onde se confrontam tradição e novos tempos. Lembrava-me de ver o filme da televisão e sobretudo desta ideia central que reli em "Do you love me?": de que o amor se faz de persistências muito para lá da paixão. 

Fica o excerto desta música, no filme de Norma n Jewison, e o texto, em português: 

- Golde, tenho que te contar uma coisa importante.

- Come a sopa.

- Está quente! Encontrei o Perchik com a Hodel.

- E... ?

- Bem, parece que eles gostam muito um do outro.

- E então? O que é que estás a pensar?

- Então... Resolvi autorizar o casamento!

- O quêeeeeeeeeeeeeeee?! Assim, sem mais nem menos? Sem sequer me perguntar?

- Eu é que sou o pai!

- Sabes quem é ele? Um pedinte! Não tem absolutamente nada!

- Eu não diria isso!Eu sei que ele tem um tio rico.

- Um tio rico!

- Golde, ele é um bom homem. Eu gosto dele. É meio doido, mas eu gosto dele. E o mais importante... é que Hodel gosta dele. Hodel adora-o. O que é que podemos fazer? O mundo mudou: é o amor... Tu amas-me?

- Eu o quê?!

- Amas-me?

- Se te amo?

- Sim?

- Acho que estás cansado e zangado: com tudo isto do casamento das filhas e os problemas ... Vai descansar. Deves estar doente.

- Não, Golde, fiz-te uma pergunta: amas-me?

- És tolo!

- Eu sei que sou. Mas amas-me?

- Se te amo?

- Sim?

- Há 25 anos que lavo a tua roupa, cozinho, trato da casa, dei-te filhos, ordenho a vaca ...Depois de 25 anos, vamos falar de amor porquê?

- A primeira vez que nos vimos foi no dia do casamento ...

- Eu estava com medo

- Eu estava envergonhada

- Eu estava nervoso

- Eu também

- Os meus pais diziam que iríamos aprender a amar e eu, agora, pergunto: Golde amas-me?

- Sou a tua mulher.

- Eu sei! Mas amas-me?

- Se te amo?

- Então?

- Há 25 anos que moro com ele, luto com ele, passo fome com ele. Há vinte e cinco anos que a minha cama é dele. Se isso não é amor, o que será?

- Então amas-me?

- Acho que sim...

- Eu também acho que te amo...

- Não muda nada, mas mesmo assim, depois de 25 anos é muito bom saber isso.

publicado por Nuno Cardoso Dias às 13:42 | link do post | comentar

Mil milhas

Agora que andei 
mil milhas nos teus sapatos
nem por isso posso dizer
que te conheça melhor
e muito menos que te possa julgar.
Os sapatos, esses,
perderam as tuas marcas,
desgastados pelos meus passos 
e até o seu nó 
se refez nos meus dedos:
o mesmo que te ensinei
antes de aprenderes por ti
a tua forma de dar laços. 
E isto eu não posso aceitar,
não posso aceitar,
não posso. 
 
Um par de sapatos. Vincent Van Gogh, Arles, Agosto de 1888 [Wikimedia Commons]
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publicado por Nuno Cardoso Dias às 13:05 | link do post | comentar

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